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Esta página mostra meus trabalhos já publicados e alguns inéditos - contos, poesias, crônicas e imagens. Também estão aqui as versões originais das letras que fiz para a banda Dose Letal. Há trabalhos do século passado e atuais.
Olhando a sua direita, estão as obras dispostas por categoria e você pode acessá-las abaixo no "Arquivo do BLog".
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Depois está a lista de obras que participaram de concursos. Estas obras já foram citadas na lista "Obras por categoria". Apesar de algumas já merecerem reescrita, foram mantidos os originais.
No fim está uma lista de links de sites que considero que valem ser visitados.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Faca de 2 gumes - Concurso Literário ALLMED

Corte 1:

Um dia mais cedo. Raro chegar em casa um dia mais cedo. Será que Sônia estaria espiando pelo cortina, para me esperar à porta? Não, está muito cedo. E ela achando que eu não via seus verdes olhos pelo vidro - mas não direi isto.


Desta vez chego em casa e vejo a cortina inerte na janela. Mas quando abro a porta qual minha surpresa: Sônia em pé com uma camisola transparente e duas taças de Chamapanha na mão. Ela está demais... Os cabelos desarvorados, a boca vermelha e o perfume que adoro. A luz por detrás realça-lhe a silhueta de quadris largos e pernas grossas. Tão lânguida era e estava, que só de vê-la cheguei ao cúmulo da excitação.


- É para mim este Champanhe ?
- E para quem mais ? - respondeu devagar
- Então, que tal um brinde ?
- A nós.


Viramos o champanhe de um só gole. Então ela parou, olhou direto em meus olhos e virou bruscamente para a cozinha. Permaneço estático e em segundos ela volta à sala com uma faca na mão. Vem devagar até mim e manda tirar o paletó. Eu tiro. Ela desabotoa minha camisa com uma mão enquanto com a outra toca a faca em meu rosto. Sinto o frio metal sobre minha face, minha boca e meus olhos fechados. Então de repente ela rasga, corta minha camisa fazendo uma tira bem larga e me venda os olhos. Puxa-me pelo cinto escada acima aos beijos e mordidas enquanto grita meu nome. Em um momento sinto-a me empurrando, e mal meu corpo cai na cama suas mãos hábeis tiram o que resta de minha roupa. Como uma onda, vira meu corpo sobre o seu e delicadamente. Sua voz se eleva mais que o mundo e seu corpo se mexe como nunca - e nunca a vi assim, nunca estive assim, e de súbito sinto-me tocar o céu, virar nuvem e dissipar-me.



Corte 2:


Humm, adoro este champanhe. Espero que ele não esteja cansado pois eu não estou. Ei, que barulho é ess... Não, a PORTA!!!

Corro para a porta e fico petrificada ao vê-la abrir. Ele entra e quando me vê assume a mesma expressão com que eu olhava Jonas há menos de dez minutos.


- É para mim este Champanhe ? pergunta
- E para quem mais ? Tenho de manter a calma. Droga, não era hora para ter de olhar pela janela.
- Então, que tal um brinde ?
- A nós. E levamos os copos à boca.



Pense. Apesar de tudo você o ama. Não pode perdê-lo. Já sinto o champanhe passar sobre minha língua e molhar a garganta. Ele não pode ver Jonas. Não pode vê-lo. Ele, ...ISSO! - Ele não pode VER!



Desço o copo e olho em seus olhos. Já sei o que fazer.

Viro para a cozinha. Abro a gaveta, pego a faca de carne e volto à sala. "Tire o paletó" ordeno. Me aproximo devagar e com a face rente a sua vejo o quão belo é meu marido. Desabotôo sua camisa lentamente e passo a fria faca em seu rosto. Ela desliza sobre sua face, seu queixo, sua boca, enquanto minha mão a imita em seu peito másculo. A faca sobe por seu nariz e quando toca suas pálpebras sinto um arrepio e me lembro do que tenho de fazer.

Pego sua camisa e rasgo. Faço uma tira bem grande e vendo seus olhos. "Ele não vai vê-lo". Pego-o pelo cinto e o arrasto escada acima enquanto beijo, lambo e mordo seu corpo rijo. Relembro Jonas e grito o nome de meu marido, para que ele ouça. Entro no quarto e o vejo nu, em pé, ao lado da cama. Faço um sinal para que saia enquanto jogo Mauro sobre os lençóis. Pulo sobre ele e arranco-lhe as roupas ao mesmo tempo que Jonas cata as suas e ruma para a porta. Viro Mauro sobre mim e me assusto - Jonas está lá, parado ao portal, braços cruzados, roupas no chão. Mauro me beija e acaricia, me excitando como sempre soube. Jonas se mexe e percebo que vem em minha direção. Ajoelha ao lado da cama e segura minha mão com o rosto perto do meu. Sinto sua respiração. Mauro se move e enrijece e eu já não sei o que está acontecendo.

Jonas beija minha mão. Eu grito e ele aperta mais forte - então tudo some. Quando meus olhos desembaçam vejo Jonas levantando, pegando suas roupas e partindo, enquanto meu marido respira fundo sobre meu ombro e percebe que não consegue tirar o nó cego de sua venda.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Sertanias, Romarias e Asas-Brancas em Aquarela - Concurso Homenagem a Graciliano Ramos


"Pinto a dor, a alegria, o trabalho, a miséria, o meu povom enfim."
Cândido Portinari



E Fabiano acordou. Porque Fabiano queria viver.
Recolheu sua família e caminhou.
Porque Fabiano queria viver.


Durante o sono da noite, tivera uma sensação. Um sonho, ele achara, pois havia muito tempo eles se perderam e não encontravam o caminho de casa através do sertão. Havia um lugar bom, para ele, sua esposa e filhos. Até para Baleia. Tinha de haver. No sonho, havia sinais. Era só segui-los. Em duas palavras, tentou, entre dentes, explicar à família o ocorrido, mas desistiu. Não saberia. Então silenciou. E eles o seguiam como sempre.

O sertão passava numa triste solidão. O sol alto castigava os retirantes, dúvidas escorriam da pele junto com o suor, sobre se aquela era mesmo a direção certa. Fabiano ainda não via o sonho. Não era uma plantação coberta pelo verde dos olhos de sua esposa - era o vermelho de sua barba cobrindo o chão de baro, o vermelho lhe tomando os olhos e a garganta num braseiro sem tamanho.

Tudo era pó e desolação.

Horas em silêncio. Longe muitas léguas da falta d`água que lhe tomara o gado, da sede que levara seu alazão, Fabiano, quando olhava a família, já achava que isso era uma sombra que o esperava de tocaia para lhe levar o pouco que ainda tinha - os poucos a seu lado. Falta d`água, falta de vida, ela o seguira até aqui. E havia horas o pequeno no colo da mãe não abria os olhos.

De repente, viram um grupo ao longe. Aproximaram-se. No encontro, por um suspiro, tudo pareceu imóvel.

Era um quadro belo e comum em tom azul: dois homens, uma madeira comprida indo do ombro de um ao do outro, com um lençol preso pelas pontas, carregando um volume que parecia leve... leve como o peso de todos os que vivem no sertão. Leve como a sede, leve como a fome. duas mulheres ajoelhadas: uma à frente do grupo rezava, a outra em frente ao lençol estendia os braços aos céus em desespero, como que a pedir, como que a chamar - mas nenhuma voz veio, nenhuma voz falou. Pouco se fala em um Enterro na Rede. Só súplicas e preces.

Então o suspiro passou. Como que quase sem querer, ela recolheu os braços, levantou e virou os olhos para o sul. Parou de chorar. Seu rosto foi assumindo a serenidade do azul da paisagem. Ela sorriu e lembrou... Quem amara não ia se levantar da rede, sua alcova e cova - mas ela não sentia mais dor. Ergueu a cabeça, olhou para a família de Fabiano. Seu braço se ergueu lento apontando o sul, pois agora ela lembrara o que esquecera. O filho mais velho a olhava, e ela retribuiu o olhar, então Fabiano também entendeu - mesmo que não soubesse explicar sobre um lugar aonde os mortos não voltam mas em que não se sente dor por eles. Bastava seguir o olhar. O filho pequeno se aninhou no colo da mãe e andaram.

Nos Enterros na Rede não se fala muito. Nem mesmo Deus.

Baleia demorou a chegar junto à família, pois durante o quadro que se dera estava ao longe como um senhor de idade, que ninguém notara, sentado diante de uma tela com vários potes de tinta junto a si. Na mão, uma vareta com o que parecia um tufo de cabelos na ponta.

Caíra a noite.

Subira o sol, caíra a noite ao fim do dia. E assim se fez por mais dois dias.

Fabiano, sentado, olhava a esposa de joelhos. Filha dessa vida a sol comprido, rezava. Não, tentava. Como ela não sabia rezar, tudo o que oferecia a Nossa Senhora da Aparecida era o olhar e as lágrimas que esperava rolarem até a boca para não desperdiçar água. Fabiano não rezava. Nem esperava a sorte. Se ela existia, ele não sabia - nunca a vira pelo sertão, e se ela já estivera aqui, fugira pra capital. Ou pro lugar esperado pra onde ele ia.

Entretanto, fosse a tal da sorte de volta, fosse Nossa Senhora, que entende uma prece sem falas, ao final da noite um ronco surdo acordou a todos.

Agora se anda mais rápido, como se não houvesse dor, sede ou fome. Já faz três noites que pro sul relampeia. Não há música mais linda que o ronco do trovão. Andam. Então chega uma cerca.

Entram pelo porteira devagar. É o medo e sua irmã desilusão que tentam segurar seus passos. Mas seus narizes vão correndo - cheiro de terra molhada, mato verde, esperança. E os ouvidos engaiolam uma asa-branca a cantar que é uma beleza.

A plantação toma até onde a vista alcança. Não há jagunços vigiando a lavoura. Quem está aqui não precisa ser vigiado. Quem está aqui respeita a lavoura, a si, a vida, a morte e aquele a seu lado. Todos trabalham, há trabalho pra todos. Todos aram a terra, há terra pra todos. E todos comem.

A chuva que se foi deixa de lembrança as cores mais vivas nos campos. São tantas cores, tantos tons difeerntes, que Fabiano quase pperde o equilíbrio. Por um minuto, olha para si e ao redor. Esquálido e sujo, envergonha-se do que é, do que a vida fez de si, de não merecer estar aqui, e um ímpeto de correr lhe toma as pernas. Mas antes uma mão o segura pelo braço e o traz para perto de todos. Pois o pecado que carregamos é o de não acreditar que se pode.

A mão que trouxe Fabiano tem um pincel em sua companheira. Baleia corre para junto do dono das mãos, ganha um afago delas e senta-se a seu lado. Fabiano é levado até vários retângulos de madeira, e neles vê espelhadas todas as cenas à sua frente - Crianças Brincando, homens colhendo O Café, mulheres preparando um Casamento na Roça para o fim da tarde.

O pintor pede a Fabiano e sua família que juntem a um senhor, uma mulher e seu bebê e mais dois garotos que acabam de chegar. Quer todos Os Retirantes juntos para fazer um quadro. Um quadro sobre um lugar que lhes pertence. Como pertence a todos. Um lugar onde o céu azul não constrasta com as aves negras ao alto.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Ode aos derrotados / Canto dos vencidos

só durmo mesmo quase à beira de um desmaio
a Vida passa e eu fico no seu rastro
na corda-bamba dia a dia quase caio
seu toque é frio, me sufoca seu abraço

porque ninguém louva o derrotado
a História não é feita por vencidos
feio, gordo, pobre, anão, aleijado
nessa Terra ninguém louva o mal-fadado

E cada um tem a sua maneira de enfrentar a dor
a sua maneira de manter a fé, de se manter em pé
de fazer valer seu viver

Vc se esquece que não se chora de alegria
mas que o Sol nasce e seca o choro a cada dia
Seja como for vc tem de levantar
só pra tentar - sobreviver.

Minha Dama de Negro

Vejo ansioso sua figura chegar
Manto negro, esbelta,

o frio corta o ar.
Toma minha mão com todo apreço
e ando na sombra do Seu Vale
sem nada a temer
pq Ela está a meu lado.

No Teu silêncio encontro a paz
em quietude o Tempo volta atrás
pra eu rever o que fiz
recontar meus passos
rever horas gastas
chances que perdi
vertigens, pessoas e crenças
revivo culpas e dores
fogos-fátuos de amores
amigos e estranhos
dançam no balé da noite

De tudo que passou
Nada mais me interessa
carrego Nada nos bolsos
nem lembranças ou credos
E do que me espera
nada temo
pq a meu lado Ela está.

Tudo passa, nada fica
Pedra sobre pedra,

do pó viestes,

e somem deuses e eras
Mas Ela fica.
E nada temo
pq a meu lado está Ela.

MÚSICA - Sleeping Song (for Clara)

A9 E7
I see you in silence threre is no moving

A9 E7
I see you in silence and think why

D7M
All the things happen

C #m7
Lord forgott us

Bm7 A9
All we can do now… cry


A9
I see you sleeping

E7 A9
Can´t believe in angels above you

E7
Make me deny

D7M
There will be chances

C#m7
For any changes

Bm7
It´s just a question of time




Homenagem a Clara P. de Orvalho, 12 anos de idade, 08 em coma.