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Esta página mostra meus trabalhos já publicados e alguns inéditos - contos, poesias, crônicas e imagens. Também estão aqui as versões originais das letras que fiz para a banda Dose Letal. Há trabalhos do século passado e atuais.
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sexta-feira, 25 de maio de 2007

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Jardim de pedra

Caminhando entre mármore e paz, vejo-te como branca estátua e velo o naufrágio de tua existência. Quando submerges na treva da terra, útero que nos rumina, paro e penso:


De tudo que vi
A mais bela visão
Um véu que cobre sereno
As costas da sua mão

Deitada lânguida me esperando
para estar ali a seu lado
no silêncio de nossos corpos

- casa onde ora o Desejo falou mais alto

Você desce eu permaneço
Ao redor outros olhos não entendem
porque os meus
não se afinam a seu coro de lágrimas
mas como não petrificar
diante do belo que une
o crepúsculo à alvorada?

Em mim não há força ou sentimento
do vazio só emerge a brandura
mesmo sua alcova de madeira vendo
descer suave à solidão insondável
do escuro da sepultura

É como se Ele aspirasse de volta
O Sopro de meu nariz
para viver uma vida morta
de um torto triste e infeliz.

... e hoje, lembro-me quando andando por aí um mendigo velho, numa esquina, uma vez me disse:
“tudo que sei é que anjos caem
como lágrimas de estrela
e que Deus nos disse frágeis centelhas
- de vida”

Você ... ?

Você limparia minhas feridas?
Eu fraco sujo cortado
ferida exposta sangue coagulado

Você me olharia “daquele jeito” – ?
Eu feio caído estilhaçado vidro
eu-barranco desmoronando
carne sem charme farelo de gente
migalha de pão cuspida pelo canto da boca
resto de algo jogado no chão que se pisa por engano

E quando por medo
de todos de tudo
por todos por tudo
quebrado confuso
Apertaria-me forte até eu parar de tremer?

Você seguraria minha mão no escuro?
Levaria-me Cego
Bagagem estorvo entulho
Por este mundo que fere e machuca
Que me deixou assim,
que me venceu.
perderia seu tempo com um perdedor?

e quando nem a pena valho
e te procurasse
haveria alguém a meu lado?

.... ?

Prece ao Sol Poente

Meu Deus é o deus do Sol Poente
O que tudo sabe, O que tudo sente.
Que sabe que apesar de intensa toda luz vai se findar
Que seja o calor do Sol ou de uma vela,
ele vai se apagar
Que toda cor morre ao firmamento
seja o escuro um tormento
ou um lugar pra repousar
Que cai a noite negra e fria
como um bebê que já dormia
e nunca mais vai acordar.
Meu Deus é o deus do Sol Poente
O que tudo sabe, O que tudo sente.

Pular Carniça - Concurso Prêmio Centenário José Lins do Rego

Tudo corria dentro da mais perfeita normalidade. Não havia pessoas correndo para todos os lados, gritos, confusão, ou algum barulho desprovido de sentido. Poucos carros passavam, pelo avançado da hora, a barraca de cachorro-quente atendia seus clientes notívagos, algumas pessoas no ponto esperavam a condução demorada. Nada fora do normal para essa madrugada de quinta, não fosse o corpo estendido no chão.

Lembro-me de quando cheguei a esta cidade. Não, não quero me ater ao choque que embaralha os sentidos de todo interiorano quando este chega em uma capital – ainda mais uma metrópole como o Rio. Todo emigrante, retirante, viajante, todo aquele em jornada ou de passagem, sente isso. E os relatos chegam a perder a graça de tão iguais: o mar de pessoas apressadas, ruas gigantes, ruas apertadas, prédios rasgando o céu, aleijados dormindo no chão, o ar sujo e carregado de barulho, carros importados e exposições de arte, bancos 24h, restaurantes 24h, gente 24h, disque-comida, disque-farmácia, disque-companhia, buzinas, pastelaria de dono chinês e cybercafé. Se alguém quiser que eu explique como foi para mim esse caleidoscópio cultural, que experimente por si mesmo: pare um dia no meio da avenida mais movimentada, feche os olhos, respire e depois os abra. E tente enxergar. Está tudo lá. Inclusive o homem morto.

Não sei como fora parar lá. Nem o que causara sua morte. Estirado no asfalto, ao lado do ponto de ônibus, um rastro vermelho vinha de sua cabeça até o meio-fio. Na barraquinha, mais dois cachorros-quentes foram vendidos.

Leio o jornal para esquecer o homem morto. Nas manchetes vejo uma releitura da Bíblia, com casas destruídas, barracos desabando nas encostas, centenas de desabrigados, tudo pela força das Águas que toma forma de enchente e inundação. Lembro desse horror em minha infância no Engenho, quando da subida do rio, com as águas invadindo nossa Casa Grande, tornando o canavial em mar. Lembro do Amâncio abrindo sua casa para nós, dos peões levando comida para as vítimas, criando barricadas para a água, o povo de terras vizinhas vindo para ajudar. No engenho não se entendia por família só os unidos pelo sangue. “Ah!, isso tudo é uma palhaçada”, esbraveja um homem que se achega, apontando uma manchete em meu jornal que dizia “Campanhas de doação para os desabrigados estão sendo realizadas...”. Continuou, “Sou professor em Angra dos Reis. Vi dezenas de famílias aglomeradas na escola municipal, daí, quando percebi, os responsáveis pela distribuição das roupas e dos alimentos estavam separarando as doações: tudo que vinha de Ipanema, Leblon, tudo que vinha da alta da roda, ia pra uma sala separada. Nada daquela sala jamais foi visto pelos desabrigados”. Chega seu ônibus e ele parte. Olho as fotos e penso no Engenho... Mesma água, pessoas diferentes.

Um cara passa correndo a meu lado em direção ao ponto de ônibus. Faz sinal com o braço, o motorista pára. Ele corre, pula por cima do homem morto, pega sua condução. O motorista arranca e quando sai quase passa por cima da cabeça do defunto.

Outro cadáver que tenho na memória, conheci quando Aquela-que-a-todos-vem parou para uma visita no Ateneu. Franco se foi em um domingo alegre e com um enterro modesto. O diretor Aristarco chorou não a perda de um aluno, mas a perda de seu “cão”, de seu “exemplo ruim para o resto dos alunos”. Chorou com uma fragilidade que acabou com qualquer semelhança que eu antes via com a figura de meu avô, o Coronel José Paulino. Aliás, fragilidade, no Ateneu, encontrava nos rapazes tímidos e ingênuos sempre quem os impelisse para o sexo da fraqueza – eram “dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo”, alertara-me um aluno. “Vais encontrar o mundo”, dissera o pai de um colega efeminado, à porta do Ateneu – e encontrou, entre suor, preconceito, sangue e libido. Tudo, no final, consumido em um incêndio junto com o nobre colégio. Mas as chamas ainda estavam nos olhos desse garoto quando o encontrei, através de suas memórias escritas, anos depois.

“Tem fogo doutor?” pergunta, de repente, um mendigo a meu lado. Aparecera do nada; uma figura estranha, sombria, barbas longas, cabelos desgrenhados, os dentes tortos em um sorriso malicioso. A pele escura pela sujeira e voz arranhada dão o tom nefasto de um mau presságio. Acendo seu cigarro e ele parte, repugnante, bem devagar, como Os Cegos de Baudelaire, ao mesmo tempo sinistro, como uma criatura de Stephen King. Quando pequeno diziam haver um lobisomem nas terras do Engenho. Sacudo a cabeça para espantar essas besteiras, lembro que aqui no Rio tenho de ter medo é de assaltante e bala perdida. Por que aqui, viver sobre o natural é o mais aterrorizante

Essas recordações saudosas do Engenho... cairei no piegas do emigrante que fica a sonhar com sua terra abandonada? Ficarei tecendo odes aos pés de milho crescendo, canções para a cana acamando na várzea, sonetos ao gado gordo e as vacas parindo? Na verdade o Engenho se tornou um monte de mato na primeira vez que vi dúzias de garotas de biquíni na praia. Prefiro minha respiração batendo com as ondas na arrebentação e suas sereias do que a perambulação por brejos e pés de cana.

Perdi meu ônibus. Diabos...! Estas cenas aprisionaram-me e por um instante fiquei como os canários na gaiola. Quando pequeno caçava dúzias deles. Ficava horas no sótão, preparando as armadilhas e observando sorrateiramente minha presa. Então via como ela ia se tornando segura, até entrar na armadilha e eu ouvir o fechar do alçapão. Agora, cativo, passava de minha reles presa a meu grande amigo engaiolado. E éramos irmãos em semelhantes grades, as da gaiola e as da solidão; e para eles eu era todo atenção, eles eram meus confidentes, meu passatempo, a razão do meu Tempo, cuidava deles, rezava por eles, amava-os. E assim iam os dias... Até que ganhei um lindo carneiro para montaria, chamado Jasmim, e desfilava sobre ele por todo o Engenho, causando inveja a todos. E nunca mais tive tempo para aqueles canários na gaiola.

Meia hora até o próximo. E tudo no mesmo lugar: eu, a barraquinha de cachorro-quente, o mendigo, os caras parados no ponto e o homem morto. Simples assim. Nada mágico como as fábulas da velha Totonha nas noites quentes do Engenho. Ela, que sabia como ninguém contar uma história, não teria aqui matéria-prima para a imaginação – um homem morto no chão, outro homem em pé a olhá-lo. Sem ação, emoção, sem pompa nem vida. Tudo parado, tudo tem lugar e o homem morto chega a fazer parte natural da cena.

Finalmente, outro ônibus. O transporte de madrugada é um desalento. Entro no ônibus, sento, e nem lembro de dar uma última olhada para o homem morto. Esqueci dele assim como do Engenho tinha me esquecido. Troquei-o por um ônibus. Troquei a infância pela cidade. Troco de assento agora porque a janela desse não abre. Assim funciona o coração: caça, captura, devora, até surgir caça nova. Talvez lembre do Engenho quando estiver caído, sozinho ao chão e outros me pulem para poder ir para casa.

Mariposas e Casulos - Concurso literário Guemanisse

A cama é dura por causa da dor que ele sente nas costas. Sua respiração é leve, entrecortada com pausas de apinéia, e ele pouco se mexe debaixo dos lençóis. A noite está quente, um vento seco vem da janela e em nada alivia. Fico a olhá-lo por muito tempo, não sei dizer ao certo quanto. Uma mariposa entra voando e se aloja na parede. Talvez tenha sido a febre, mas, hoje, mais cedo, dissera como amara minha mãe; pediu para ver sua fotografia, Aquela, com vestido com flores azuis, em que ela está brilhando e seu sorriso é como o Sol! Aquela... aquela... Contou como a vida fora dura consigo, praguejou, lamentou-se em rancor, relembrou, chorou. Olho-o frágil, deitado e suando, e penso o que tenho de parecido com ele – talvez a curva do nariz, talvez a linha do queixo, talvez um ou outro formato de unha, talvez a orelha esquerda.
Não. Nada herdara. Eu não tenho nada a ver com esse homem.

12:47; 11 de maio de 1963. O almoço demorava para ficar pronto; minha irmã nunca foi muito rápida na cozinha. Seu problema nos pulmões a atrapalhava com os vapores que subiam das panelas, além da alergia que tinha a certos cheiros de temperos. Às vezes a ajudava, escondido, para que ele não me visse, Trabalho de mulher, vai virar um maricas fazendo isso!, sempre a mesma frase seguida do mesmo tapa. Deixe-a!
13:10, agora a mesa já estava posta, ele na cabeceira, eu à direita, minha pequena irmã à esquerda. Nesse dia, tinha eu 17 anos. Minha irmãzinha era mais nova do que eu cinco anos, mas já estava ficando moça, uma moça linda, penso que minha mãe deveria ser assim quando ele a conheceu. Às vezes acho que ele pensava o mesmo, pois, como naquele dia, o peguei várias vezes a olhar minha irmã demoradamente; daí seu rosto se torcia em uma expressão de raiva e tristeza e ele se virava a fitar a porta dos fundos sempre entreaberta. O ferrolho fora arrebentado de dentro para fora com o soquete de carne, e foi só o que ele encontrou na casa naquele dia em que voltou do trabalho – o soquete e as gavetas vazias. Que o mal que ontem nos afligiu hoje não nos acompanhe, Amém; dizia em voz monótona sempre antes de começarmos a comer.
Ele nunca consertou o ferrolho.
Está sem sal. Um tsic quase inaudível escapou dos lábios de minha irmã. Um simples tsic. Você tem pressão alta pai, ela ia dizer como sempre quando ele fazia essa reclamação rotineira. Mas nesse dia fora diferente. O tsic reverberou em seu crânio e estremeceu seu corpo fazendo-o levantar em direção a ela. Sua mão fechada cruzou o espaço entre os dois direto à boca de minha irmã, esmagando dentes, gengiva e um sorriso brilhante que ela nunca mais lembraria como dar. O impacto arremessou-a contra a parede, a panela voou de sua mão, caindo e espalhando a sopa pelo chão. Ele avançou em fúria até a garota que escorregava, como manteiga no pão quente, pela parede até o chão e sem hesitar chutou sua barriga. Imediatamente ela ficou roxa, a respiração rarefeita, a boca escancarada buscando o ar que fugia correndo de seus pulmões como um cão quando enxotado. Mas eu vi que ele não ia parar. Quando ia dar outro chute, levantei súbito como um raio e o empurrei para longe dela. Foi o meu fim.
Ele se ergueu, Ah, então se já é homem pra me enfrentar, então vai apanhar como homem. Vou te mostrar quem manda nessa casa, e me deu um murro no nariz que esvaiu em sangue. Foge, gritei. Ela entendeu. E então, não é homem? e me deu um soco no estômago com tanta força que meu corpo vergou sobre si, Foge, eu gritava em dor. Minha irmã começou a rastejar, puxando e arrastando o corpo pelas unhas que cravava no chão, sugando o ar que respiram as solas dos sapatos. Outro soco na cabeça, cambaleei para trás, acho que eram trevas no canto do olho, ou sangue, já não sei, ela se arrastava pelo portal em direção à dispensa embaixo da escada, ele vinha e sua mão quebrou algo em minha boca; acho que engoli pedaços de meus dentes, ela continuava se arrastando, ele continuava avançando, as trevas ou o sangue, não sei, tomavam minha vista, ouvi, graças a Deus, a fechadura da dispensa se fechar, então cai pesado no chão com um baque surdo. Senti ainda um chute no estômago e um pisão nas costelas, antes de ouvir aquele homem pegar o casaco e sair calmamente e a porta da frente se fechar. Fiquei no chão sugando o ar que respiram as solas dos sapatos lembrando se em algum momento levantara a mão meu pai.
Não, não levantei.

Uma mosca pousa em sua testa. Suas sobrancelhas ainda são grossas, encontrando-se na linha do rosto em cima do nariz. A febre cedeu; dorme calmo, tranqüilo, como qualquer homem de bem. Quarenta e dois anos depois e sou a única pessoa que ele tem para chamar. Olho pela porta entreaberta e vejo meu quarto do outro lado do corredor. Às vezes, a pequena Mariângela ia lá e pedia para eu segurar sua mão, pois tinha medo do escuro. “Você toma conta de mim?”. “Sim minha irmã, tomo”. Tirei-a de casa, mas nada pude contra o coágulo em sua cabeça – “oriundo de prováveis traumas recorrentes na região”, disse-me o laudo.
01:31, hora do remédio. Ele dorme, hoje sem tossir nem cuspir aquele negro catarro. “Deficiência respiratória devido ao uso excessivo de cigarros”, me dissera o médico; “É esperado que seus pulmões parem a qualquer instante”. Olho para o frasco na mesinha ao lado da cama, olho para o travesseiro ao lado dele.
Ele dorme tranqüilo, como qualquer homem de bem.
Vejo a pequena Mariângela correndo pela casa, já estava ficando uma moça linda.
Em nenhum momento lhe levantara a mão.
Olho para o frasco na mesinha ao lado da cama, olho para o travesseiro ao lado dele.
“A qualquer instante”.
A mariposa dá voltas pela cama.

Que o mal que ontem nos afligiu hoje não nos acompanhe.
Amém.

Ritual - Concurso de Crônicas Prêmio Literário Sérgio Bermudes

Acende-se o fogo. Carne crua sobre a mesa de pedra, ainda sangrando, é cortada, mal fatiada, com uma faca cega. Ferro enferrujado se arrasta contra corta músculos, o sangue quente escorre corre pela mesa fria e goteja em bocas escancaradas de cães ávidos pelo sortimento. É a preparação.
Então, começam a chegar.
Gritos de saudação. Urros. Corpos suados se saúdam em abraços. Apertos, toques, lábios nas faces, lábios nos lábios, saliva e suor. Poucas vestes, seminus, calor excessivo. Líquidos coloridos, dourados e cor de sangue, surgem como que por mágica em mãos ansiosas frenéticas e escorrem por gargantas abertas e vorazes.
Fome.
Pedaços de carne são atirados na brasa. Nacos de carne dançam nas bocas. Dentes rasgam, mandíbulas se fecham e mordem. Mordem. Um ruído contínuo ao redor, conjunto ao ranger e mastigar, aumenta, ensurdece, hipnotiza. Corpos ondulam e tremem em um som incessante de batidas que rugem como tambores que clamam a tribo à guerra. Vagam como se, com a alma em branco, possuídos fossem pelo Algo-que-não-se-vê. Pessoas em volta do fogo, um deles se abaixa e o alimenta. Brasas no chão, fagulhas no ar, cheiro de cinzas e seres. E no calor todos os cheiros ficam mais fortes. A fumaça aumenta vira neblina e a todos cerca.
E chegam mais, e mais...
As horas caminham em tempos diferentes para todos e para cada um. Olhos brilham e reluzem as misturas que bebem, bocas moles falam demais, gritam, esbravejam – e mais líquidos sorvem. Eles se sentem mais fortes, bravos, elas se sentem lânguidas, algumas parecem confundir os parceiros. Alguns desmaiam, outros acordam seus olhos para as chamas; o fogo que queima por fora, o fogo que queima por dentro – quem dormiu não tem mais direito à carne ou a parceira que deixou solta. Fogo, fumaça e dança – Beltane recriado.
E chegam mais e mais.

O calor aumenta, a pressão aumenta. Hormônios sobem estratosféricos, tumulto, gritaria. Cães correm, homens correm e uivam. Loucura, anima animale – chão para uma Inquisição
que não vem, e todos, ignorantes do mundo, continuam felizes.
E chegam, mais, e mais...
Aos que chegam o ciclo se repete. Aos que chegam o ciclo se fecha. O Sol percorre o arco do céu e morre ao fundo - e todos felizes, ignorantes do mundo. A fumaça tampa o horizonte, tudo fica escuro.
Como um pergaminho, uma Tábua da Lei, cai no chão o aviso que a todos trouxe, a evocação desse ritual mágico, O Chamado:
“Churrasco em Bangu amanhã à tarde! 10, 00 Real a entrada, bebida liberada!”