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quinta-feira, 6 de março de 2008

Outra noite na Taberna - trecho do livro ilustrado "Fábulas da Noite"

Lua cheia. Sua claridade cintilava nas folhas e um rigoroso inverno castigava a região. Zoll, sempre em silêncio, observava a doçura infantil de Ariel, que brindava com cânticos as novas amizades conquistadas. Então , o jovem bardo sorve seu vinho para espantar o frio e se vira para Lucian:

- Uma trova!
- Você primeiro, bardo
- Que seja!

O fogo chegou, o choro secou
A fumaça se foi, só cinza ficou
o vento cessou, o barco parou
sim, ele era forte,
mas a onda o virou


- Sua vez!
- Está bem. Chama-se “Estações”

A inocência morre à primavera
no calor o fruto dá seu fruto
que se junta às folhas soltas no chão
para fazer do inverno seu túmulo


- Sois um bardo romântico, Lucian
- Obrigado
- Ouça! E Ariel vir-se para moça que passa a seu lado , olhando-a lascivamente:

Canto de pássaros, chocalho de serpente
É a voz de mulher com dois sons diferentes

A moça vira-se enraivecida e parte, deixando os risos para trás. Depois se viram para o terceiro à mesa, quieto até então.

- Conte-nos algo, caro Zoll
- Sim sacerdote, se não canta, conte.

Zoll ajeita-se na cadeira em silêncio. Uma brisa leve entra pela porta e tremula as chamas das velas que dançam uma melodia triste.

- Uma história... de uma amiga...

...mas agora ela senta em silêncio
a boca murmura uma prece infantil
lágrimas caem, joelhos doendo
pede por quem um dia partiu

Décadas a passar
sóis se pôr, levantar
e ele nunca retornou
e nela a solidão
– mais que a vergonha –
aflorou

Sentada em sua cama
observa
sua desonra e humilhação
refletidas na lâmina
que espelha seu rosto
e se agita em sua mão

Não pensa em correr
- para onde fugir
do que se é ou se fez
Se o inevitável se faz vir
então seja agora!
no frio metal
repousa a resposta

Pois, uma órfã de Deus
por quem o Sol não brilha
tem menos a perder
do que a própria vida.

Então Zoll levanta-se em silêncio e não o percebem partir
E na taberna mais nenhum riso foi ouvido na noite.

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