Como dito antes, aproveito esse espaço também para divulgar o que de relevante acho, não só o que seja de minha autoria. Abaixo temos trechos de um livro que será apresentado na próxima Bienal, divididos em dois blocos, sendo esta o primeiro e o segundo vem em breve. Como é um material que ainda será lançado, curtam a pré-estréia !
Excertos do livro Verdade-Metafísca-Poesia de Roberto Kahlmeyer-Mertens - PARTE 1/2
O ensaio em nosso livro tem por objetivo especular sobre a relação entre os pensamentos ocidental e oriental, a partir das noções de verdade, metafísica e poesia. Toma por ponto de partida a poesia haicai. Cumprindo a tarefa de uma problematização desses elementos e visando a contribuir para o preenchimento da lacuna existente entre os modos de pensar acima mencionados. Da mesma maneira, retoma o haicai como tema digno de consideração da Filosofia. (...) O escrito conta com três tópicos, cada qual reservado aos conceitos anunciados no título. Ao final, nos convencemos de que o haicai é terreno fértil ao pensar, para além das suas circunstâncias geográfico-culturais, entretanto, nossos resultados não se furtam a críticas ou se consideram palavra final.
Em nossa pesquisa, o acaso por vezes conspirou favoravelmente, para fazer com que se tornassem disponíveis livros e periódicos que permitiam pensar a implicação de Heidegger com o Oriente, com sua poesia e linguagem. Foi também assim que a poesia haicai veio à pauta de nossas discussões, tendo como pano de fundo a questão da verdade e da metafísica.
Entre todos os diálogos, o mais essencial foi o com o Poeta brasileiro Luís Antônio Pimentel. Seu conhecimento da cultura japonesa e a possibilidade de sua poesia conjugar todas as questões relativas ao encontro entre os pensamentos ocidental e o oriental, mais que testemunhar o intercâmbio entre essas, foram motivos suficientemente persuasivos para adotarmos seus haicais como ponto de partida para nossas reflexões de filosofia.
(...)
São incomensuráveis as controvérsias relativas à interlocução entre os pensamentos oriental e ocidental. Se por um lado temos a tentativa de legitimar uma dita filosofia oriental que aparece como o esforço de alguns poucos entusiastas pelo assunto; de outro, a comunidade acadêmica, em sua maioria, não aprecia tais investidas mantendo-se irredutível quanto à filosofia ser um fenômeno ocidental. Para essa, não existiria a filosofia fora da perspectiva européia, sendo qualquer manifestação genuinamente filosófica derivada desse modo de pensar. Se essas duas posições divergem nesses pontos, parecem concordar em ser arriscado qualquer tipo de tentativa de associação do pensamento oriental ao ocidental, ou de pensar o primeiro com os recursos do outro, sob o risco de uma tradução já alterar a essência e qualquer compreensão pretendidas, por se valer de seu vocabulário e gramática. Nesse cenário, ainda existem duas formas de nos portar diante dos temas e das questões fomentados pelo Oriente: ou bem silenciar, preterindo-o como pensamento ininteligível aos ocidentais e, por isso mesmo, indigno de ser chamado de filosofia; ou assumir o risco de pensar filosoficamente seus temas, apropriando-se de suas questões sem o pudor de tomá-las sob a única ótica que temos à disposição. A bem da verdade, do segundo modo, estaríamos fazendo filosofia à maneira do Ocidente (descarte-se aqui a intenção de uma filosofia oriental); apenas tomando o Oriente como ponto de partida.
Cientes disso, minimizar a discrepância seria adotar o melhor ponto do Oriente para começar nosso argumento. Para nossa aproximação, perguntaríamos o que aquilo que se convencionou chamar de Oriente poderia servir de solo ao nosso exercício de pensamento. Escapando da indiferença do arbítrio, presumimos que a melhor marca daquele mundo é a língua, dimensão continente de toda sua conjuntura, seu espaço de realização, compreensões, interpretações, asserções discursivas, referências, sinais e propósitos. Na língua, esses se depositam expressando com o que lidamos e seus determinados modos. Todavia, dentre os modos de expressão de um idioma, talvez o mais privilegiado seja o discurso poético. Parece ser evidente aos antigos que a poesia e o espírito humano são fenômenos indissociáveis e que (ainda que nunca tenhamos escrito uma única letra de poesia ao longo de uma existência) relata a própria vida do espírito, entre nascimento e morte, dando-se no intervalo entre essas duas instâncias inefáveis. Destarte, a poesia é relato de um mundo e de seus significados, indicadores do homem em sua realização.
Soma-se, assim, diversos motivos para tratarmos da poesia. Mas como pensar a poesia aqui? Seria o caso de apresentar notas sobre a gênese e história desse gênero? Ou quem sabe ceder à sedução de fazer crítica literária? Parece ser nosso texto fomentado pela necessidade de pensar o Ocidente aproximando-o (contrapondo-o) ao Oriente a partir de sua poesia, e pela urgência de preencher algum hiato no tocante às implicações filosóficas do pensamento oriental com sua poética; quem sabe em uma modalidade típica como a poesia haicai.[1]
[1] A viabilidade da utilização dos haicais como ponto de partida de endossa no seguinte parecer de Ute Guzzoni: “Sem dúvida, a antiga sabedoria Zen e a poesia dos haicais (...) não são filosofia no sentido usual da palavra. Contudo, podemos começar algo com elas. (...) Em nenhum outro lugar como no haicai japonês a admiração do que a cada vez é e não é encontrou lugar tão digno, seguro, e ao mesmo tempo tão singelo”. (GUZZONI, 2002, p. 76).
Confira texto integral em KAHLMEYER-MERTENS, R.S. Verdade-Metafísica- Poesia: Um ensaio de filosofia sobre os haicais de Luís Antônio Pimentel. Niterói: Nitpress, 2007 (no prelo).
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